setembro 09, 2010

Morre Lentamente

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco e os pontos nos "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante...
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

Pablo Neruda

julho 24, 2010

Decisões

Pedra, papel, tesoura!
É incrível a forma como tomamos decisões... na infância.
Temos dois caminhos para escolher e não sabemos qual o mais acertado. Mas logo à partida temos a certeza que essa decisão vai efectivamente ser tomada. E em poucos minutos.
Sai uma pedra e aniquila por completo a tesoura indefesa. Sem dó nem piedade, a tesoura vinga-se e recorta uma folha de papel em mil pedaços... Foi-se. Mas há-de voltar.
Inesperadamente a folha ressuscita e abraça a pedra com tamanha força que a sufoca. É o fim.

Uma decisão acabou de ser tomada. Sem espinhas.

Pedra, papel, tesoura..!
Volta infância, estás perdoada.

julho 23, 2010

Nada mais

Não sei porque estou assim.
Tomara que soubesse.
A minha cabeça é uma perfeita confusão e os meus pensamentos tornam-me ignorante.
Não sei nada.
E o que sei é ínfimo comparado ao que gostaria de saber. Anseio por encontrar a luz, na escuridão da minha consciência.
Não sei onde está.
Se soubesse certamente que estaria mais feliz. Tento procurá-la no silêncio da noite porque o silêncio às vezes diz mais do que um grito, e a luz de uma estrela é capaz de iluminar um mundo.
Caem lágrimas.
Gostava que mas enxugasses com a suavidade com que me olhaste pela primeira vez. Mas quem és tu?
Tomara que soubesse.
Não sei o que fazer. Simplesmente não sei.
(mostra-te)
No calor deste momento um abraço é tudo o que preciso.
Nada mais.

julho 15, 2010

Pensamentos

Penso em tudo e em nada.
Agrada-me pensar que sou um ser pensante capaz de produzir pensamentos. Quando penso produzo algo que um preguiçoso não produz, porque os preguiçosos não pensam, dormem.
Mas quando dormem também sonham, e sonhar é pensar sem ter a noção de que se está a produzir um pensamento, é criar uma realidade indolor aos olhos, é poder ser feliz enquanto não se está acordado.
Hoje quero ser um ser preguiçoso, capaz de produzir pensamentos preguiçosos. Porque quando durmo também sonho e, enquanto sonho, pensar não dói.

julho 14, 2010

Desiderata

Vai serenamente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente mantém-te, tanto quanto possível, em boas relações com todos.
Diz a tua verdade calma e claramente.
Escuta com atenção mesmo os menos dotados e ignorantes. Também eles têm a sua história…
Evita as pessoas barulhentas e agressivas pois são mortificações para o espírito.
Se te comparas com os outros podes tornar-te presunçoso e melancólico porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti.
Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos.
Põe todo o interesse na tua carreira mesmo que ela seja humilde. É um bem real nos destinos mutáveis do tempo.
Usa de prudência nos teus negócios porque o mundo está cheio de astúcia, mas que isso não te cegue a ponto de não veres virtude aonde ela existe.
Muitas pessoas lutam por altos ideais e em todo o lado a vida está cheia de heroísmo.
Sê fiel a ti mesmo, sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor porque em face da aridez e desencanto ele é perene como a relva.
Toma amavelmente o conselho dos mais idosos renunciando com graciosidade às ideias da juventude.
Educa a fortaleza de espírito para que te salvaguardes de inesperada desdita; mas não te atormentes com fantasias.
Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.
Para além de uma disciplina salutar sê gentil contigo mesmo.
Tu és um filho do Universo e tal como as árvores e as estrelas tens o direito de aqui estar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem dúvida que o Universo é-te disto revelador. Portanto vive em paz com Deus seja qual for a ideia que d’Ele tiveres.
E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações na ruidosa confusão da vida conserva-te em paz com a tua alma.
Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos desfeitos o mundo é ainda maravilhoso.
Sê cauteloso.
Luta para seres feliz.

Max Ehrmann